junho 29, 2016 h2horse

Artigo da semana – Como virar o jogo em uma situação de crise

Uma rede de 35 lojas mostrou seus números em nosso primeiro dia de consultoria. Por cláusula contratual de sigilo, seu nome não será revelado, mas o caso é real e trabalhei para recuperar esta empresa durante 12 meses. Situação diagnosticada nas dez primeiras horas de trabalho:

  1. Receita líquida nos últimos 24 meses NUNCA atingiu a meta;
  2. Custo da mercadoria vendida 3 pontos acima da média do segmento;
  3. Custo administrativo 2 pontos acima da média do segmento;
  4. EBITDA (geração de caixa) entre 1 a 2 % da receita líquida;
  5. Dívida equivalente a 8 vezes a geração de caixa;
  6. Perfil da dívida: 76% de curto prazo;
  7. Estoque para 8 meses;
  8. Relação no balancete entre valor do estoque e pagamento para fornecedores demonstrava que a rede de lojas financiava o fornecedor. O valor do estoque e os pagamentos feitos para os fornecedores cresceram muito nos últimos 12 meses;
  9. A comparação entre os recebíveis e as entradas no caixa demonstravam que a empresa também financiava os clientes;
  10. A capacidade de investimento era nula;
  11. Havia pendências fiscais;
  12. O prejuízo estava refletido na dívida. A empresa sobrevivia através de empréstimos bancários;
  13. Embora com quase 40 anos, a empresa possuía um demonstrativo de resultados confuso, misturando conceitos de caixa e competência, o balancete não era confiável e não havia fluxo de caixa direto ou indireto;
  14. A contabilidade era terceirizada e muito ruim tecnicamente. A empresa estava exposta a vários riscos legais;
  15. O centro de distribuição era desorganizado, permitindo fraudes e provocando avarias e vencimento de produtos. O índice real de perdas, incluindo CD e lojas, era desconhecido;
  16. Havia imóveis locados sem necessidade;
  17. Os aluguéis de algumas lojas foram mal negociados. Estavam ao redor de 10% acima do mercado;
  18. Gerentes de loja e balconistas mal treinados;
  19. Algumas lojas eram muito feias e sujas;
  20. Supervisão de loja sem método;
  21. Não havia processos padronizados em nenhum departamento. Controles internos deficientes;
  22. Folha muito alta, 20% acima das boas práticas de mercado;
  23. Diretoria familiar sem preparo gerencial e com liderança fraca;
  24. Concorrência aumentando a pressão;
  25. Não havia um padrão claro para os descontos que podiam ser negociados pelos gerentes de loja;
  26. Controles precários no recebimento de pagamentos, especialmente cartão de crédito e convênios;
  27. Vendas por site absurdamente deficitárias;
  28. Sistema informatizado dependia de fornecedor pouco confiável;
  29. TI dependia de um gerente que centralizava toda informação;
  30. Estratégia inexistente, baixíssima capacidade de planejamento;
  31. O orçamento era uma fantasia para a qual ninguém olhava.
  32. Havia um conselho de administração com duas atribuições: atrapalhar a operação e gerar despesas desnecessárias.
  33. Não havia organograma, o que gerava muita confusão em relação à responsabilidade por resultados e execução de tarefas;
  34. Não havia metas pessoais nem para a equipe das lojas.

Explicação para a sobrevivência nos primeiros 40 anos: concorrentes locais muito fracos, quase nenhuma ameaça dos concorrentes nacionais e pagamento a menor de impostos.

A primeira ação tomada foi cortar todas as despesas que nada acrescentavam para a operação. Eliminar a venda pelo site, reduzir pessoal, especialmente na matriz, demitir maus gerentes nas lojas, treinar equipe e refazer o orçamento, reduzindo drasticamente a expectativa falsa pela receita. Isto não significou afrouxar a venda porque metas ousadas foram definidas para as lojas, mas não trabalhar financeiramente com um número falso. A redução da previsão de vendas mostrou claramente para os acionistas o absurdo das despesas. O conselho foi eliminado na tarde do primeiro dia, locações foram canceladas e, após cinco dias, cortamos 5 milhões de custos que pouco ou nada contribuíam para o resultado. A verdadeira receita líquida anual da companhia era de 118 milhões. Credores, especialmente bancos, aceitaram alongar o prazo da dívida, descobrimos furos no recebimento dos pagamentos das operadoras de cartão e em bônus concedidos pelos fornecedores. Todos os projetos supérfluos de TI e Marketing foram cancelados. Investimos o que podíamos nas lojas, o estoque foi reduzido e foram criados controles internos e padrões. Treinamento rápido e direto ao ponto foi ministrado para vendedores, o CD foi otimizado e organizado. Quando cheguei na empresa, formei uma equipe interna com os melhores de cada área. Eles fizeram o trabalho. Passados 36 meses do primeiro dia da consultoria, a empresa aumentou a liquidez, reduziu a dívida para 3,5 o EBITDA, aumentou a geração de caixa para 6,5% e recuperou a capacidade de investimento. No início fechamos 6 lojas, mas a empresa abriu 10 novas lojas nos últimos 12 meses.

Alguns parentes foram demitidos da diretoria e do conselho e o entusiasmo foi recuperado. Conto de fadas? Nada disso, apenas uma trabalheira sem fim, muitos finais de semana ralando 10 h por dia e muita dor de cabeça. O resultado foi devolver para os acionistas e para o mercado uma empresa saudável.

Por Paulo Ricardo Mubarack, consultor de negócios.

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